quarta-feira, 19 de janeiro de 2011





“VALE MAIS UMA IMAGEM QUE MIL PALAVRAS”
Se há coisas que me fascinam, uma delas é a fotografia! Nem sei porquê!
Pela lógica natural, o processo formativo e evolutivo de cada pessoa, desencadeia nelas conhecimento, vontade e “performance” adaptada e vocacionada para determinada área, desde que os condicionalismos da vida não as impeçam de aplicar o conhecimento adquirido. Era assim, que ainda não há muito tempo, o Ferreiro era filho de Ferreiro, o Sapateiro era filho de Sapateiro, etc. Todos sabemos que nos dias de hoje já não é assim! Se existe alguma simbiose relacionada com os factores anteriormente descritos, é somente a nível político onde o filho desse (Político), aprende a roubar “dentro da lei”.
Vivemos em época em que os nossos descendentes se “exilam” no seu quarto e se distraem a “matar” heróis virtuais na sua consola “escolar” (tipo Magalhães) ou Playstation, formando-se em “violência adaptada aos papás”, enquanto nós nos “babamos” de orgulho, porque o seu “guerreiro” que já “abateu” aviões, o super-homem e já partiu as pernas ao Cristiano Ronaldo, irá ser Dr., e por isso, não tem de aprender a trabalhar (em Portugal os Dr.’s não têm que trabalhar, somente têm que arranjar emprego e…mandar os outros trabalhar enquanto se “desgastam” a pesquisar na net as características e potência “em cavalos” para decidirem se compram um Mercedes ou um BMW).
Agora reparo! Já me desviei do tema inicial! Peço perdão!!
Continuando, estava eu a falar do processo evolutivo das pessoas que tendem a adquirir conhecimentos no meio aonde foram criados e se tornaram adultos. É nesse sentido, que não entendo como aparece o meu gosto e prazer pela fotografia e pintura, pois fui criado juntamente com o meu irmão, só pela minha mãe “analfabeta”, que se “matava” a trabalhar para nos sustentar e dar o essencial para não passarmos fome e não nos sentirmos inferiorizados ou complexados pelo facto de não termos um pai que ajudasse a ganhar o pão para a nossa família.
Mesmo assim, isento de de pré-formação (infantário ou pré-escola), isento de educação escolar em casa, eu destaquei-me desde muito cedo na escola, pelos desenhos e pinturas que fazia e que deixavam espantados os professores. Lembro-me como se fosse hoje, quando andava na escola primária do Ladoeiro (a minha terra Natal), na 2ª. Classe (7anos), que o professor pediu para todos fazermos um desenho sobre a Nª. Srª. De Fátima. Eu, sem nunca ter saído da aldeia, fiz um desenho retratando uma multidão enorme que acenavam á Santa que ía num “andor”, enquanto umas pessoas se arrastavam, outras postadas de joelhos e outras ainda, de terço na mão, em frente a uma Catedral que eu nunca tinha visto e num recinto que nunca tinha pisado. Gostaria de voltar a ver esse desenho, para poder apreciar se realmente estava tão bom assim! Embora me recorde dele, “fogem-me” os detalhes para poder aplicar o meu sentido crítico. Só sei que de repente, andava atrás do professor, de sala para sala (ele com o desenho na mão), a mostrar a todos os professores e alunos, aquele “fenómeno” como lhe chamavam, enquanto eu, de cabeça baixa e sem perceber bem porquê, já que para mim, tinha feito algo normalíssimo e recebia os aplausos dos alunos da 4ª. Classe e das salas das meninas (em 1967 na minha terra, os meninos estavam separados das meninas e os professores davam aulas aos rapazes e as raparigas tinham professoras).
Recordo-me de outra situação no ano seguinte, quando já na 3ª. Classe e a frequentar a catequese, a Catequista, inscreveu-me num concurso de desenho da diocese “não sei das quantas”, onde concorriam todas as turmas de catequese do Distrito de Castelo Branco com um desenho cada uma, para uma exposição a efectuar em Castelo Branco, no Pavilhão “da lata” da Câmara Municipal, que se encontrava na Devesa (agora Centro Cívico). Embora só um desenho pudesse concorrer, todos os alunos fizeram um, onde o tema era uma situação ou personagem da Bíblia. Após analisados pela Srª. Catequista, o meu, foi o seleccionado para representar a Catequese do ladoeiro. Depois de enviado (não sei para onde), deparo-me com ele no meio de centenas ou milhares, expostos nas paredes do pavilhão já referido, no dia do concurso, coincidindo com a primeira vez que vim á cidade de Castelo Branco, deslocando-me para o efeito com a Catequista e alguns colegas de catequese numa carrinha do Padre da Aldeia.
Não sei qual o método ou moldes como foram eleitos e votados os desenhos, só sei que de repente anunciaram que o desenho nº. “tal” tinha ganho o concurso, ou a categoria (da idade), ou algo assim! Enquanto todos me davam os parabéns, a Catequista chegou com o prémio: Um braçado de missais, uma bíblia, livrinhos de cânticos de igreja e outros alusivos á Doutrina Cristã. Além disso, uma caneta de metal que tinha quatro cargas e escrevia em quatro cores (era novidade para mim) e fiquei contente, por ela.
Aos dez anos e após ter feito o exame da 4ª. Classe, a minha mãe veio comigo e com o meu irmão, morar para Castelo Branco, onde havia mais oferta de trabalho e melhores condições educativas. Pois no ladoeiro os estudos terminavam na 4ª. Classe e, assim, eu e o meu irmão poderíamos continuar a estudar, como aconteceu. Nesse ano, fui matriculado na 5ª Classe, na Escola do Castelo e morava na Zona do Cemitério. Deslocava-me a pé para a Escola e para encurtar caminho, saltava o muro do Parque da Cidade pelo “Parque dos loureiros” aonde havia muitos medronheiros. Um dia, ao saborear os seus frutos que resplandeciam de “vermelho veludo”, adormeci encostado a um e quando acordei, era noite escura. Demorei a perceber o que tinha acontecido, como e porque estava ali….até que entendi que o fruto me tinha embebedado e que tinha faltado á escola. Voltei para casa, onde encontrei a minha mãe a chorar e muita agitação dos vizinhos á minha procura (ainda não havia telemóvel e nessa altura ainda só se oferecia como prenda da 4ª. Classe, um relógio “normalmente o primeiro”). Mas esta é uma história que “volta a fugir” do que realmente me proponho relatar aqui, e tal como muitas outras histórias, permanecerão na minha lembrança!
Nesse tempo, entretinha-me à noite a fazer desenhos, olhando para as figuras que ilustravam os livros do Walt Disney e de “Cowboys” que “devorava”, trocando-os com outros miúdos, depois de lidos. Todas as noites fazia um desenho a lápis de carvão, no meu “compêndio” para o efeito, que guardava
religiosamente e que mantive durante muitos anos, mas que hoje já não existe (não sei como desapareceu).
Talvez seja esta a única explicação possível, para poder compreender o meu gosto e interesse pela fotografia, sem ter tido qualquer base, formação ou incentivo que me estimulasse a fazer o investimento numa Reflex e correspondentes objectivas. Anteriormente, ás máquinas que possuo hoje, tinha várias que ainda utilizava rolo (iso 100, 200, 300, 400) de 12, 24 ou 36 fotografias. Tirei muitas centenas de fotos e gastei muito dinheiro nas suas revelações. Fascinava-me vê-las depois de 8 dias de espera e auto-criticava-me pela imperfeição da luz, sombra, motivo de fundo, ausência de brancos, antecipação ao disparo, etc. , e ficava ansioso por voltar a repetir para poder fazer melhor. O problema era (e ainda é) que na fotografia, muitas delas, não surgem nunca mais! São momentos únicos, e está-se lá naquele momento ou “mata-se” a oportunidade. Na fotografia o momento certo, é o do acontecimento e o fotógrafo tem de saber estar lá, sob risco de não conseguir tirar a foto, que nunca terá, se assim não for.
Eu posso dizer que vou tirar uma fotografia ao pôr-do-sol, e, tiro de certeza, nem que seja daqui a um mês ou um ano, mas de certeza que cada dia que eu volte a repetir, serão sempre diferentes. Do lote que eu conseguir, só uma será a melhor, independentemente de as outras também estarem bem, mas, a melhor só lá está porque eu procurei-a, senão teria de seleccionar outra como melhor. Ou seja, em cada lote de fotografias existe sempre uma melhor que as outras, mas poderá não ser o melhor possível, ou a que realmente “aprisione” o olhar de quem olha. Este é um exemplo para um motivo que se repete várias vezes, mas para aquelas situações que nunca voltarão a repetir-se e que acontecem sem dia e hora marcada?
É esta incerteza, a percepção do acontecimento, a constante procura, a leitura visual, a ansiedade e a satisfação do objectivo conseguido é que me “alimentam” a paixão por mais este “hobbie”.
Nos dias de hoje, é muito mais fácil obter uma excelente fotografia, graças á qualidade das máquinas que nada têm a ver com as obsoletas máquinas de há uns anos atrás. Falo somente de há meia dúzia de anos atrás, onde as máquinas digitais “Reflex” eram raríssimas, a maquinaria normal usava ainda película e os cartões de memória eram ainda uma miragem no mundo da fotografia. As máquinas digitais que existiam, utilizava como “armazenamento de fotos uma diskete de 1,44 MB, com qualidade fotográfica de 4 ou 5 megapixeis e super lentas quando chegava o momento de disparar o obturador. Eram do tipo: “accionava o botão do obturador quando avistava uma andorinha empoleirada no fio do telefone e só disparava, quando a andorinha já tinha regressado a África”.
Agora com as Reflex digitais, podemos tirar até 3 fotos por segundo, ou disparar em modo de disparo múltiplo, e…até parece uma metralhadora. Se a foto ficar com pouca luz ou com pouca cor, não importa! Pois os vários programas específicos para trabalhar com fotografia existentes no mercado, como o Photoshop, o photo Express, o Picasa 3, etc., são autênticos estúdios, que tratarão em segundos de suprimir as deficiências de luz, cor, definição, corte, tonalidade, entre outras.
É um luxo, retirar o cartão (até 64 Gigabytes) da máquina e introduzi-lo no computar para imediatamente ter acesso a um autêntico mundo, onde com a ajuda desses programas poderemos fazer o que quisermos com as fotografias, inclusive até efectuar fantásticas montagens, mas o básico tem sempre de estar lá (a foto obtida pela máquina fotográfica).
Eu considero-me um caloiro amador que gosta de fotografia, e estou muito longe de ser um fotógrafo. Além de não ter essa profissão não pago a modelos, nem estúdios para “sacar” um belo nu, e nada ganho por trabalho efectuado com a minha máquina, nem por vender alguma foto. Somente procuro saber “ler” alguns motivos que estão ali, mas que por vezes passam despercebidos a quem não se interessa pela modalidade.
Eu sou somente um “CAÇADOR” de imagens!
Manuel António