domingo, 24 de fevereiro de 2008

SEJAMOS COERENTES



Há uns dias, assisti a uma conversa entre dois amigos meus, onde o tema era sobre as coisas maravilhosas que cada um viu durante as suas férias no estrangeiro. Pelo que eu percebi, as férias deles eram só mesmo, no estrangeiro, nem sequer se punha a hipótese de poderem ser em Portugal, porque segundo o que ouvi, todos os anos passavam férias num País diferente, e então, estavam a recomendar um ao outro, os vários lugares que já tinham visitado. Até aí, tudo bem!
Mas eu fico sem perceber, pasmado e até indignado, quando ouço frases do tipo: “em Punta las Cañas, vi o pôr-do-sol, mais lindo do mundo”; “na Hungria, vi o nascer do sol mais fascinante”; “ no Egipto, vi a noite mais estrelada”, etc. etc.

Ora, para mim essas coisas, não são mais do que “abstracismos” de quem quer dar ênfase ao facto, e uma grande falta de conhecimento da Terra, da Região e do País que escolheram para viver.
Eu até compreendo, que se admire e aprecie os monumentos, os usos e costumes de cada sítio ou País, e se ache isso maravilhoso e fascinante, porque são coisas não habituais no quotidiano de cada turista. Como o é, para o turista desse mesmo local, quando chega a vez dele nos visitar no “nosso cantinho”, por encontrar coisas diferentes, mas já não consigo entender quando se fala do pôr do sol, do luar, etc. Neste aspecto, tem de haver comparações. Tem de se conhecer primeiro o “nascer do sol, o pôr do sol e o luar” da terra onde habitam, coisa difícil e rara de acontecer. Pois na terra onde fazem as suas vidas, (nos dias livres) normalmente, levantam-se ao meio dia, calçam os chinelos, vêem um bom filme no DVD, á tarde vão lavar o “popó” com passagem por uma grande superfície comercial e depois do jantar, tomam café num “bar-pub”. Como se pode, desta maneira, ver o nascer do sol, ou o brilho fascinante de uma noite de luar, não bastando para isso levantar a cabeça, porque vista da cidade é ofuscada pelo espectro da luz artificial e tapada pela nuvem de anidrido carbono e outros gases que “oxigenam” a floresta de betão. Aqui, aonde ainda há gente que pensa que o leite nasce nas prateleiras dos supermercados e que os cabritos, são “nacos de carne” de promoção das grandes superfícies, e depois acham maravilhoso, quando um dia algures, lá na Tunísia, descobrem que uns “bichinhos com cornos” se chamam cabritos, e também se comem.

Em Janeiro de 2007, levei a acompanhar-me (a uma montaria em Malpica do Tejo), um Senhor de nacionalidade Brasileira, Juiz de profissão, que me tinha sido apresentado por um amigo. Este, mesmo não sendo caçador, logo mostrou interesse em acompanhar-me à referida montaria, porque não queria perder nada de Portugal. Já no local, lia-se nos seus olhos, nas suas expressões e atitudes que estava fascinado com tanta beleza. Confidenciou-me no final, que aquilo que tinha visto era das coisas mais belas (para nós, simplesmente as margens do Tejo Internacional), pelo simples facto, de na terra dele, e quase em todo o Brasil não haver grandes depressões geográficas, mesmo sendo um enorme País.
Este Senhor, também apreciou de que maneira, o nosso campo, pelo simples facto de na terra dele ser diferente. Mas se em vez de me ter acompanhado um Senhor Brasileiro, fosse um dos tais Portugueses, também teriam visto um Portugal desconhecido, mas esses, “que podem mas não querem”, pensam que só no estrangeiro é que nasce o sol.
Neste aspecto, é um privilégio ser caçador, por constituir este um argumento válido, para se poder assistir às luxúrias da natureza, em permanente metamorfose, e poder sentir com a alma a verdadeira essência dos valores outrora primordiais e imprescindíveis, na relação dos nossos antepassados com a mãe natureza.

O caçador, é um descobridor, apreciador e coleccionador de maravilhas naturais, e tem gozo e orgulho em usufruir delas. Este, conhece os mais variados “nascer do sol”; os mais variados “pôr-do-sol” e os mais variados “luares”. O caçador, sabe muito bem que o nascer e pôr-do-sol, mesmo sendo vistos do mesmo local, durante vários dias, podem ser todos diferentes. As condições climatéricas, no momento e no local onde se assiste, e onde se dá o fenómeno, condiciona o espectáculo, ou seja, um pôr do sol, pode ter tons mais alaranjados ou mais avermelhados ou ser visto parcialmente conforme as nuvens que estejam à sua frente, e o mesmo se aplica ao nascer do sol e à intensidade do luar.
Das muitas belezas e fenómenos naturais que se assiste, e não é necessário sair de Portugal, destaco um, sem me atrever a afirmar que é o mais bonito do Planeta, que é o facto, de quando as nuvens repousam sobre os rios, ribeiros e linhas de água (por baixo dos nossos pés), emergindo delas, serras, montes e elevações, pintadas de sol, “agigantando” toda a paisagem, criando a ilusão de estarmos perante os “Himalaias”. Destaco ainda a trovoada, que já surpreendeu quase todos os caçadores, que “vomita” com imensa violência, por cima das nossas cabeças, e em todas as direcções, raios mortíferos “de lume”, ensurdecendo-nos com os seus milhares de “decibéis” que fazem estremecer o solo, para minutos depois, e com o “troar” já longe, nos “gratificar” com um belíssimo arco-íris, imponente nas suas cores. Tudo isto (e muito mais) é belo, e é “made in Portugal”.
O caçador guarda para si, um sem fim de “fotografias mentais” e de verdadeiras lições de “vida e morte” que preencheriam muitas páginas de livros, que jamais serão escritos.

Ser caçador, não é só caçar, é também reconhecer que após a época venatória (chamada a época do defeso), há necessidade de se efectuar um trabalho orientado no sentido de proporcionar alimento e condições óptimas de procriação às espécies cinegéticas, e executá-lo. Há sempre várias maneiras de realizar esse trabalho (em equipa ou isolado). Só desta maneira, além de se garantir o futuro da actividade venatória, preservando a fauna silvestre, poderemos continuar a regozijar-nos com as maravilhas que a “mãe natureza” expõe à frente dos nossos olhos, mas que infelizmente, ainda muitos teimam em não reparar.
Por vezes, nem sequer há necessidade de sair do “nosso cantinho”, para apreciar maravilhas “exclusivas”, que estão à “nossa porta” e à nossa disposição. Nesse sentido, nós, caçadores, somos “privilegiados” em relação àqueles que vivem no meio da selva de cimento (e que daí não saem), e têm como “Aurora” e “Ocaso”, a luz dos candeeiros públicos.

Manuel António

P.S.- Quando falo em “caçador”, refiro-me àqueles que sozinhos ou com cães, vão para o campo, com paixão e respeito pela natureza, pelo acto em si, e para dar “jus” ao nome. O caçador, deve cumprir a lei, respeitar os outros, os bens alheios e os animais. Aos restantes, eu nunca chamarei caçadores.

2 comentários:

Fernanda Cruz disse...

Continua assim!!!
Porque cada pessoa que vá ao teu blog certamente que leverá uma "Lufada de ar puro".
Eu levei!!!

AGranja disse...

Parabéns pelo artigo e pelo blog, espero que seja um sucesso.
Abraço
Agranja