terça-feira, 14 de julho de 2009

O APOGEU DOS TEMPOS



Eu não sou especial, nem tão pouco diferente! Somente, deixei de compreender as pessoas e sinto que nasci “fora de época” e que não pertenço “a este lugar”. Sinto-me “prisioneiro” aqui, naquele que devia ser o meu espaço! Sinto-me tolhido de pensamentos, anestesiado de movimentos e castrado na personalidade. Tudo isso aqui! Naquele que devia de ser o meu lugar! …mas não! Quando dei por mim, já era “impotente”! Nada mais do que um normal “transeunte” que leva encontrões da multidão.
Por isso, o meu silêncio! Por isso, o meu afastamento! Agora permaneço no canto que ninguém quer e tomo o meu lugar de “figurante” atento ao desenrolar deste “filme”, ainda sem nome.
Quero falar! Quero gritar e expulsar a angústia que me “asfixia” a vontade de ser e estar, mas … instintivamente, fico calado. Afasto-me! Saio de mim! Refugio-me no meu “ser” e falo com os animais. Quem neste mundo poderá me ouvir? Quem têm essa paciência?
É tudo tão “vão” e “leviano”! É tudo falso e provisório! Tal qual, qualquer projecto eleitoral apresentado por “qualquer” candidato, com o fim de ganhar “o tacho”.
Estou cansado! Chego até a pensar se afinal não será esta vida o inferno, por onde passamos para podermos mostrar “ao Divino” se merecemos ,ou não, o “outro lado” (Paraíso). Talvez seja por isso, que sempre constatei, que os melhores morrem sempre mais cedo e começo a pensar que será uma recompensa de Deus, pelo facto de terem passado a “prova” ,e por isso, merecem o céu.
Aqui tudo é “fictício”, tudo é improvisado, tudo é “fachada”, e cada Ser humano, vê noutro uma “potencial” fonte de receita. O respeito, a amizade, a complacência, o perdão e a solidariedade, são “fósseis” do bom senso que existiu, mas que ninguém se lembra e que se tornaram obsoletos a partir do dia em que oferecemos a primeira consola de jogos ao nosso filho, com “montes” dos jogos mais vis e violentos; a partir do momento que montámos um sistema de hi-fi e outro de TV no seu quarto e lhe permitimos que fechasse a porta para não o incomodarmos; a partir do dia em que achamos engraçado, que o menino dormisse todo o dia, por ter passado a noite fechado no quarto a jogar, e permitir que faltasse na mesa com o pai e a mãe, ao pequeno-almoço e almoço, fazendo-lhe “a papinha” matinal ao jantar, para o levar ao “pub” e estar com os amigos, tornando-o a buscar ás 6h “da matina”, para voltar a dormir durante o dia e acordar á noite para…..! (Aí, demos-lhe o primeiro curso de “Morcegoide”); a partir do momento que para nos dedicarmos ao trabalho, o entregámos ao Infantário, pensado que os outros fariam o nosso papel de pais e ficámos descansados para “também” nos dedicarmos ao lazer.
A partir daí o mundo mudou! Sem nos apercebermos criámos novas mentalidades, novas formas de raciocínio e “deturpámos” toda a educação que até aí tínhamos orgulho de ter tido como base na nossa formação como homens e mulheres.
Agora colhemos os frutos que semeámos!! Não? Estou enganado? Então experimentem “simplesmente” tirar o telemóvel ao filho de 16 anos? (Aparelho que extinguiu o “nobre” sentimento da saudade). Aposto, que na maioria dos casos “no mínimo”, deixam de falar aos pais e desprezam-nos, para não falar noutros casos mais complicados). São agora estas novas mentalidades que conseguem (sem vergonha) estacionar o Mercedes “sacado ao papá” ou a sua Moto-quatro no lugar de estacionamento prioritário a deficientes nos Parques Públicos e nas grandes Superfícies Comerciais, mostrando a sua rapidez de raciocínio. São estas mentalidades que após “a queima das fitas” e de mais uma noitada de (quase) “coma-alcoólico” se enclausuram em casa á espera que numa noite qualquer, enquanto “abanam o capacete” na discoteca, apareça uma grande Empresa a oferecer-lhes um “chorudo” ordenado. Enquanto isso não acontece, vão “exigindo” que os escassos recursos dos pais, continuem a sustentar os seus “protagonismos” de “meninos ricos”.
De mansinho (com cara de anjos e com o diabo no corpo), vão tomando “de assalto” a casa, o carro, o dinheiro e vão expulsando os seus proprietários que aos poucos “empurram” para o “Lar da 3ª. idade”, pago pela reformas dos próprios (auto-pagam-se).
De riso nos lábios, dizem que é o novo sistema (moderno), e que por isso, tiram os pais de casa para “morrerem” por se tornarem estorvo neste ritmo de vida (selvagem), que um dia nós iniciámos. Eu chamo-lhe falta de amor e respeito pelos outros, pelos seus, por si próprios, por tudo e por nada e porque são moralmente “miseráveis”.
Só podemos culpar-nos a nós próprios, homens e mulheres que vivemos nas últimas décadas do Século passado (por isso somos ignorantes), por nos termos “enfadado” da vida saudável e maravilhosa de pura convivência e verdadeira amizade imbuída dos mais nobres sentimentos, pensámos que tudo isso era pouco. Por isso, quisemos dar mais, que mais não foi do que conseguirmos o que temos.
É triste termos que andar em “zigue-zag” logo pela manhã, no trajecto para o nosso trabalho para não atropelarmos corpos “noctívagos” que “griparam” nos vícios da noite e que estendidos pelo chão, “jazem” nas esplanadas e jardins dos bares e pub’s. É triste assistirmos a corpos que “rebolam” na relva dos Jardins Públicos “fazendo amor??” (com as calças “vestidas”ao fundo do rabo, e com os boxer’s até ao pescoço) com os bolsos a “abarrotar” de preservativos que lhes foram distribuídos na escola, em frente aos nossos pés, enquanto voltamos de mais um dia de trabalho.
Tudo isto, é uma gota no oceano do que me faz sentir “desencaixado” nesta época, pois não consigo esquecer os bons costumes, o bom senso os valores fundamentais que outrora “fabricaram” homens com dignidade e honra. Por isso, sinto-me “marginalizado” e sou acusado de “atrofiado” por aqueles que não sabendo o sentido dessas palavras são “ocos” de sentimentos.
Pensava que o “meu tempo” era o período desde que nasci até ao momento em que morrerei, mas, constato que estava errado e que o “meu tempo” já morreu....e eu fiquei “viúvo” de esperança no futuro.
Manuel António

1 comentário:

Manuel Leitão disse...

Hoje, chega a minha vez de comentar... Quero implorar-te, amigo, para que não deixes de escrever aqui o que a alma te leva...