quinta-feira, 13 de março de 2008

DEIXEM O MONTE EM PAZ




Todos sabemos que a sociedade de hoje tem modelos de vida e de pensamentos diferentes dos de antigamente. Foram vários os factores que originaram esta “metamorfose” nas nossas vidas, que tem vindo a desenvolver mentalidades hostis e embaraçosas àqueles que ainda teimam em senti-la no binómio “ liberdade e respeito mútuo”.
Na cidade sente-se e respira-se a cada momento, falta de consideração, mas se sairmos desta, e nos deslocarmos até ao campo à procura do sossego e o repouso necessário ao nosso espírito, deparámo-nos com o mesmo “sintoma social”. Já não bastavam os incêndios provocados (por interesse de terceiros), e os amontoados de lixo industrial e doméstico que de uma forma aleatória “vestem” a paisagem de plástico e metal, para agora aparecer (mais recentemente) uma nova “praga”.
Equipam-se com “armaduras”, que nem cavaleiros, montam motos 4 x 4 e “cavalgam”por tudo o que é caminhos (públicos ou privados) devastando-os, e tudo que os ouse utilizar.
É gritante e aflitivo, para não dizer “chocante” a forma como estes Senhores “se passeiam” no campo, alterando os seus ecossistemas, destruindo os seus acessos e pondo em risco a cada curva, qualquer “transeunte” que se arrisque a tirar partido de uma Natureza que deveria ser de todos.
Que me desculpem aqueles de uma forma correcta, utilizam as “moto quatro”, usando-as em pistas e circuitos concebidos para essa modalidade, que por acaso, são em número reduzido ou quase inexistentes. Aos outros, que pensam que são “os novos cavaleiros do futuro” montando os seus “cavalos de ferro” e que julgam estar a conquistar “terras de ninguém”, destruindo caminhos de acesso a terrenos privados, alterando o sossego do gado ovino, caprino, bovino e respectivos proprietários, “aniquilando” toda a espécie de “fauna silvestre” que se atravesse nos seus caminhos e que desprezam todas as normas de segurança rodoviárias que obrigatoriamente devem ser respeitadas, seja no asfalto ou fora dele, não tolero.
Fico incrédulo, como até hoje, as Associações que dizem defender a Natureza e que tão bem sabem acusar os caçadores, parecendo até que a sua existência se cinge a esse fim e para receberem subsídios do Estado, se mantêm em silêncio e nada denunciarem.
Será que não sabem, ou não querem saber?
Realmente, a velocidade a que circulam, e “embuçados” com o capacete, torna o reconhecimento de cada um destes “Invasores” impossível, mas o silêncio de pessoas, Associações e Instituições que deveriam fazer algo, ou no mínimo denunciar um caso que está a tornar proporções catastróficas, fazem suspeitar que por baixo daqueles capacetes, poderão haver caras conhecidas.
Pobres não serão concerteza, pois estes não conseguiriam comprar “um burro”, muito menos um “cavalo”.
Quem ainda não participou numa montaria, e não assistiu ou ouviu dizer que em pleno exercício desta, um grupo de “motar’s” se “infiltrou” dentro da mancha, destruindo todo o trabalho de um ano da entidade gestora, fazendo fracassar as expectativas de dezenas de Monteiros. Quantas montarias foram igualmente privadas do êxito possível, por as mesmas pessoas, terem já percorrido toda a mancha, ainda antes da colocação das “armadas”, não se percebendo depois, o porquê, da ausência das “reses”.
Pessoalmente, tenho alguns “encontros imediatos” com estes “intrusos”, nos quais poderiam ter saído pessoas “aleijadas”. Há três anos, quando procedia à marcação das “portas” para a realização de uma montaria, numa parte da área a “montear” em que a sinalização das mesmas se podia fazer com a carrinha, eu deslocava-me “pendurado” nesta, no lado de fora, em cima do “apoio de pés” da viatura, no lado do motorista que ía parando em cada “porta”, na qual, eu descia para a numerar e assim sucessivamente. Em determinado local do trajecto, próximo de uma curva acentuada, aparecem como um relâmpago, duas motos 4 x 4, que vinham totalmente “atravessadas”ocupando toda a extensão desta, sem hipóteses de poderem parar, travando nós a nossa viatura instintivamente fazendo-me quase cair. Quando se esperava que o choque fosse inevitável, os nossos protagonistas, aceleraram ainda mais continuando atravessados e endireitaram as motos quase em cima da carrinha, num movimento “arrepiante” passando pelo lado esquerdo aonde eu me encontrava a uma velocidade “alucinante” e a milímetros do espelho da viatura e de mim, mas tocando-me de que maneira por dentro, não conseguindo evitar chamar uns nomes aos pais deles. Embora tenham sido em vão, porque nem os filhos nem os seus progenitores quiseram ouvir.
Desde aí, vejo-os constantemente (esses e muitos mais) e sinto os efeitos nefastos que esses Senhores trazem à floresta, aos animais domésticos e selvagens, e muito especialmente à fauna cinegética.
Todos conhecemos a tendência que as lebres têm para irem passear para os caminhos, sabemos também que é para aí que as perdizes levam os perdigotos, para circularem mais facilmente e infelizmente todos conhecemos o fim trágico que uma grande parte de animais encontra nas estradas e caminhos, estimando-se que sejam em maior número do que aqueles que são abatidos pelos caçadores, no pouco tempo que nos é permitido exercer a actividade venatória.
Como já referi anteriormente, este problema não passa somente pela “invasão” de um espaço, onde eu penso haver claramente uma incompatibilidade entre todos os “protagonistas” e se ter destruído o sossego e segurança de toda a fauna, mas passa também por encontrar e denunciar os responsáveis que “cumplicemente” promovem e colaboram na destruição de um património rural, como são os caminhos, estradões, veredas, etc. patrocinando eventos desta natureza, fora dos circuitos oficiais, ignorando os prejuízos que daí advêm, deixando lesados muitas pessoas que necessitam desses caminhos para poderem trabalhar as suas terras.
Por favor, sejamos mais responsáveis por aquilo que a todos pertence, vá ao campo, mas não desta forma.
Não sinto de forma alguma, prazer em falar de um assunto destes, muito menos sentir que esta realidade tende a aumentar o número de praticantes. Sinto sim a obrigação, tal como devem sentir todos os responsáveis e entidades gestoras das Zonas de Caça de “olhar” por toda a fauna e seus habitat’s, e que “por algum motivo” nos propusemos defender.
A nós mesmos, impomo-nos obrigações, e tudo faremos para as cumprir. Por respeito à caça e aos caçadores, tudo fazemos para conseguir condições de alimento, refúgio e tranquilidade às “espécies cinegéticas”, esgotando no monte toda a nossa disponibilidade, desenvolvendo um trabalho que achamos importante e que continuadamente ficamos a aguardar que dê-a os seus frutos e não queremos deparar-nos com algo que explicitamente, nos garanta o fracasso.
Há já alguns anos que tudo fazemos para melhorar as nossas Zonas de Caça, efectuando desmatações e culturas cerealíferas, colocando pontos de alimentação permanentes bebedouros naturais e artificiais, diminuindo as jornadas de caça no processo de espera, etc. Por isso, estamos agora a colher os frutos da “árvore” que plantámos. Soubemos efectuar uma gestão de implementação de técnicas orientadas no sentido directo de fomentar o capital cinegético e agro-rural, em sintonia com todos os recursos naturais e agentes locais. Nesse ponto, temos a consciência plena de que tudo fizemos para respeitar todos os agentes envolvidos, quer fossem a caça, os caçadores ou os proprietários.
Não é o que se passa com os “invasores” que me refiro neste artigo, que não respeitam nada nem ninguém, e têm incentivos e patrocínios de Instituições Públicas, (em Raid’s e Provas TT), para virem destruir o espaço rural e florestal, que contém caminhos públicos e privados, mas acima de tudo, por serem os locais onde moram os animais, e mais grave ainda, o facto de nunca aparecerem as Associações Ambientalistas a protestar seja o que for, causando-me enormes dúvidas sobre “o objecto” dos seus estatutos, ou o porquê da sua existência.
Continuaremos a desenvolver o trabalho que até aqui temos vindo a efectuar em Zonas de Caça Municipais e iremos continuá-lo nas mesmas, e noutro novo projecto de Z.C.T. Mas tudo o que for nocivo e estranho ao que nos propusemos defender, terá de ser denunciado e combatido.
Todos os que fazem parte do nosso projecto e connosco colaboram (ou vierem a colaborar), terão de assimilar esta forma de pensamento, porque só assim a “corrente” se dirigirá no mesmo sentido, e levará a água ao moinho.

Manuel António

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