domingo, 2 de março de 2008

Cultura, Arte e ...Caça!


Ao contrário do que se diz ou possa pensar, a caça é para pessoas civilizadas e com cultura, senão vejamos:
- Desde o princípio da humanidade que o homem caça. Fazia-o por necessidade e para preservar a sua existência. Inclusive, toda a evolução tecnológica que este veio desencadeando durante a pré-história, foi orientada em redor da caça, no aperfeiçoamento dos métodos e utensílios desta.
Pode-se dizer que foi a caça (como sustento), e, maior responsável da sua sobrevivência, que o estimulou a pensar e a desenvolver a sua inteligência. Nesse tempo, caça, era a única cultura.
Muitos séculos depois, com o homem já organizado politicamente e integrado em Povos constituídos por Monarquias, a caça, já não era para todos.
Os homens já não eram todos iguais, estavam divididos em classes, que iam desde a Fidalguia até à Plebe (pobres). Os terrenos e os instrumentos de caça pertenciam aos Reis e Nobres que possuíam grandes Coutos Senhoriais espalhados por todo o reinado, podendo assim caçar as espécies conforme a época do ano, em função da situação geográfica de cada Couto, ex., (D. Manuel II, tinha um palacete em Monforte da Beira, para caçar lebres, a cavalo). A arte da caça era tida, como sendo o melhor treino para iniciar e formar jovens Cavaleiros, dentro da Realeza (Príncipes) e Nobreza.
Utilizava-se o cavalo e as armas, como na guerra, coisas que a pobreza não tinha, além de não terem terrenos para exercer.
Nesse tempo, a caça além de ser uma cultura, era uma Arte.
Com a implantação da República e com ela a mudança abrupta das mentalidades, despertou-se nos membros das classes menos abastadas (a pobreza) a vontade de imitar o seu Senhor, caçando nos terrenos deste, a pé e com um pau, ou com arma e cão.
Aí o objectivo da caça, já não era o de respeitar qualquer espécie, nem a propriedade alheia, nem tão pouco o de só matar a fome, era também o de ganhar algumas moedas com a venda de peças de caça, àqueles que sendo velhos, doentes ou incapazes, não a podiam exercer.
Deteriorou-se aí o sentido da Arte e Cultura da caça.
Ainda hoje se houve falar aos mais velhos, desabafos do género: “antigamente é que era, um homem sozinho com a sua paralela, limpava 20 coelhos e outras tantas perdizes numa jornada, e caçava todos os dias”.
Para mim, essas palavras são o retrato do tempo em que a caça deixou de ser uma Arte, mas sim o princípio de uma escola de caçadores que têm vindo durante estas décadas, invertendo o verdadeiro sentido dela. Para quê, matar 20 coelhos e outras tantas perdizes, se nem sequer as conseguia consumir todas e ainda não existiam congeladores, voltando no dia seguinte a repetir a dose?
Além de outros factores, a diminuição das espécies e a descredibilidade do caçador perante os olhares de quem não exerce a caça, começou aí, e teima em continuar. Com menos intensidade, é certo, porque felizmente alguns pseudo-caçadores, que formados por professores dessa escola, não conseguindo nos dias de hoje, o resultado equivalente ao tempo em que se iniciou, vão desistindo. Mas outros há, que não desistem de modo algum, e a vão encarando como uma guerra ou uma competição, enchendo o monte da sua ganância, egoísmo e desrespeito com aqueles que encaram a caça como uma Arte.
O verdadeiro caçador, durante uma jornada de caça deve sentir-se feliz mesmo sem dar um tiro, desde que veja durante o seu trajecto, vários animais. Contrariamente, se durante um dia inteiro no monte, em permanente busca das espécies cinegéticas, não vir alguma, então deve sentir-se triste, pois isso significa que o fim está próximo.
A caça deve ser uma Arte, nós caçadores, temos o dever de restituir-lhe esse estatuto.
Em pleno Séc. XXI com a extinção do analfabetismo, e formação de novas mentalidades, devemos consciencializar-nos e organizarmo-nos de uma vez por todas, para repormos as coisas no lugar.
O ordenamento total da caça, vem dar-nos essa oportunidade. As Z.C.T., as Z.C.A. e as Z.C.M., cada qual com o seu método de funcionamento e gestão, irão absorver totalmente a comunidade de caçadores (250.000) e funcionar como núcleos de caça. Deste modo, cada caçador deverá fazer juízo de si próprio, tirando ilações válidas daquilo que é melhor para si, integrando-se no modo de regime ordenado que melhor lhe convier, ou parar por aqui. Assim, as atenções daqueles que continuarem, deverão estar centradas na sua zona de caça, interessando-se pela sua qualidade, dando inclusive, o seu contributo em trabalho. Só deste modo, a caça voltará a ter Arte, dentro da nossa Cultura.

Dentro desta “linha de ideias”, pretendo criar uma Z.C., que já existe na minha mente “como projecto”, e esse, é um “Paraíso cinegético” com muitas culturas, alimentação em abundância, sossego e principalmente paz e tranquilidade para o caçador e sua família. Sim! Porque aquele homem vestido de verde “floresta”, sempre avistado na companhia de um cão, também é pai de família, e conhece os seus deveres.
Como referi, esse projecto ainda só existe na “minha cabeça”, logo veremos se teremos capacidade de construir e manter esse “Paraíso”. Assim hajam pessoas com a mesma ideia e vontade, e, ...a obra nascerá!
Sejamos todos caçadores e conscientes!

Sem comentários: